quarta-feira, maio 16, 2012


Afeganistão troca ópio por maconha

O cultivo de maconha aumentou em 40% no Afeganistão.
Segundo pesquisa, a maconha está sendo cultivada em pelo menos 18 das 34 províncias.

Foto: Sameer Najafizada/AP
Agricultor afegão cuida de plantação de maconha em Balkh (Foto: Sameer Najafizada/AP)
Os campos da província de Balkh, ao norte do Afeganistão, erradicaram completamente as papoulas de ópio este ano, uma conquista bastante elogiada por oficiais afegãos e internacionais. Mas uma análise das plantações de Mohammad Alam revela outro problema que está surgindo no terreno das drogas.

Pés de canabis, chegando a três metros de altura, preenchem as terras de Alam, prova de que os agricultores estão trocando o antigo plantio pelo da maconha. A plantação pode ser tão lucrativa quanto à do ópio, mas não chama tanta atenção dos órgãos de controle do Afeganistão concentrados em eliminar as papoulas de suas terras.

Foto: Sameer Najafizada/AP
Homem cuida de pé de maconha na província de Balkh, ao norte de Kabul (Foto: Sameer Najafizada/AP)
O cultivo de maconha aumentou em 40% no Afeganistão neste ano, de 50.000 hectares plantados em 2006 para 70.000 hectares, segundo estimativas do Departamento de Drogas e Criminologia da ONU em sua pesquisa de 2007 referente ao ópio.

A maconha está sendo cultivada em pelo menos 18 das 34 províncias do Afeganistão, de acordo com a pesquisa divulgada no mês passado.

O relatório destaca Balkh como "principal exemplo" de uma província que erradicou o ópio, afirmando que outras províncias deveriam seguir "o modelo desta região ao norte onde liderança, incentivos e segurança fizeram com que os agricultores abandonassem o ópio."

 Ilegalidade
No entanto, um pequeno trecho do relatório relacionado à maconha afirma que o aumento no cultivo deste produto "é motivo de preocupação."

"A maconha também se alastrou para o norte do Afeganistão e constatou-se que seu cultivo aumentou sobretudo na província de Balkh", segundo a pesquisa.

Alam, um dos agricultores de Balkh, disse que sabe que plantar maconha é ilegal, mas alega que depende dessa lavoura para poder alimentar os filhos. Ele disse que o governo não tem condições de oferecer empregos ou estimular o mercado de cultivos legais.

"O governo não consegue gerar um mercado promissor de outros cultivos como algodão, melancia e vegetais, por isso preciso cultivar maconha no lugar de papoula", disse Alam.

Os traficantes de drogas das províncias de Kandahar e Helmand, ao sul, onde se cultiva papoula, viajam para o norte para comprar maconha e levá-la ao Paquistão, disse Alam.

O general Khodaidad, ministro interino de combate às drogas no Afeganistão que, assim como muitas pessoas no Afeganistão, usa apenas o primeiro nome, contou que o governo ainda não possui um controle estruturado da maconha.

"Este é mais um problema enorme para o Afeganistão", disse ele. "Mais gente ficará viciada. É muito barato. O haxixe é mais prejudicial (do que papoulas) para o povo afegão."

Segundo a ONU, a maconha rende cerca do dobro da quantidade de drogas por hectare em relação ao ópio de papoula e exige menos investimentos para cultivo. Diante disso, os agricultores de maconha poderiam ganhar a mesma quantia por hectare do que os agricultores de ópio, conforme relatório sobre drogas elaborado pela ONU.

"Como conseqüência, os agricultores que não cultivam mais a papoula de ópio podem acabar recorrendo ao cultivo de maconha", segundo o relatório.

O Afeganistão já é responsável pelo cultivo de cerca de 93% do ópio do mundo.

Akbar Khan, agricultor de 35 anos da província de Balkh, disse que se os cultivos legais impusessem preços altos, os agricultores os adotariam.

"Sabemos que o cultivo de maconha é ilegal, mas somos muito pobres e precisamos cultivá-la para ajudar a subsistência de nossas famílias", declarou ele. "Não gosto de plantar papoula nem maconha. Não quero que as pessoas se viciem nessas coisas, mas preciso levar comida para casa e não me resta outra alternativa."

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